POPULAÇÃO E O CÍRIO DE NAZARÉ: RELAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NA TRASLADAÇÃO.

 



POPULAÇÃO E O CÍRIO DE NAZARÉ: RELAÇÃO ENTRE AS PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NA TRASLADAÇÃO


                                                                                                                                                                                                                                                                                       Anderson dos Santos Gonçalves1

Eduardo Oliveira de Macedo Rodrigues2

Hildo da Silva Almeida3

Leonardo Anderson do Espírito Santo4

Maria Diana Ribeiro de Sousa5

 


RESUMO 

O conteúdo deste ensaio de artigo relata as experiências vividas durante a Trasladação do Círio de Nazaré ocorrida no sábado do dia 7 de outubro de 2023, em Belém do Pará. A equipe autora deste ensaio se dirigiu ao local do evento para analisar e trabalhar em suas percepções as sensações e experiências obtidas durante o percurso daquela procissão. Desde onde se inicia até onde encerra, se acompanhou o processo que reuniu mais de 1,5 milhão das mais variadas pessoas, advindas de diferentes localidades, credos e etnias, promesseiras ou curiosas, buscando fazer daquele momento algo marcante em suas vidas. Foram realizadas entrevistas neste percurso sobre as percepções das pessoas, dos promesseiros, dos romeiros, sobre seus objetivos e sensações em estarem ali, famílias que se reúnem para ver a passagem da imagem de Nazaré. Apresenta-se a experiência que cada autor obteve durante a Trasladação e, a partir de suas entrevistas, mostram-se os resultados.


 Palavras-Chaves: romeiros; vivências; relato de experiência; Trasladação; Círio de Nazaré. 




 1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de um conjunto de atividades realizadas pela disciplina de Geografia da População ministrada pelo prof. Dr. Wallace Pantoja, no curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA, tendo objetivo de evidenciar vivências de corpos na dinâmica da cidade ao reunir experiências de cada integrante da disciplina e fiéis de Nossa Senhora de Nazaré, nesta que é a maior manifestação religiosa do mundo, o Círio de Belém-PA. Fazendo um exercício de unir teoria e empiria na produção de saber. Os corpos ativos nesse transitar do sincretismo e da fé, trazendo consigo uma base cultural passada de gerações para sua rotina no mês de outubro, pois é chegado o Círio outra vez, mesmo aquele que não crê em nenhuma divindade sente esse momento de juntar dos corpos para viver essa festividade nas suas romarias, seus fogos de artifícios, sua paisagem de decoração da cidade de Belém, pontos turísticos movimentados por estrangeiros da fé. Logo, tudo servindo para construir um ensaio, que reunisse os saberes de cada individuo, expondo assim nesse trabalho essas sensações no espaço urbano.




 2. METODOLOGIA 

Este ensaio está fundado na utilização do Trabalho de Campo, na medida em que toda a equipe autora esteve participando “in loco” da Trasladação do Círio de Nazaré no dia 7 de outubro de 2023 para realizar observação empírica sobre o evento. Utilizou-se, na esteira desta presença direta, coleta de um conjunto dados através das entrevistas com romeiros, com promesseiros e com participantes diversos da procissão, buscando captar as motivações e as sensações que se manifestavam ali. Em seguida, foi realizada uma análise qualitativa do material coletado e, uma vez somados às vivências pessoais de cada membro da equipe, foi produzido um conjunto de relatos de experiências. 




3. EXPERIÊNCIAS VIVIDAS 


3.1 – Experiência e percepções de Anderson 

Quando estamos envoltos por sentimentos e percepções de diversas naturezas, conseguimos captar passo a passo cada momento vivido em espaços diferenciados e a experiência que pude ter durante o período da transladação foi diversificada em vários aspectos. Na oportunidade deste período de evento entrevistei algumas pessoas acerca do tempo que frequentam o Círio de Nazaré, como se identificavam quanto à sua orientação sexual, se existia uma razão pela qual a pessoa estava participando naquele momento único ou mesmo por curiosidade, e quais sentimentos despertavam por estar participando da maior festa católica religiosa. 

 Várias foram as respostas e a faixa etária foi entre 15 a 70 anos. O que se torna mais interessante é que a diversidade de cores, saberes e desafios vividos por mim e por quem pude entrevistar, são quase que infinitas. Percebi que não é apenas um momento de fé e buscas, mas de entretenimento, encontros, desencontros entre amigos e casais. A transladação se apresenta como um encontro de população onde uns aprendem com outros a compartilhar sentimentos que os tornam cada vez  mais crentes naquilo que muita das vezes parece impossível. Um amigo chamado Nilson Sena, morador do bairro da Cabanagem afirmou em entrevista que a razão pessoal de estar no Círio de Nazaré é que a fé das pessoas o motiva a acompanhar o translado, o qual tem vontade de chorar de emoção como expressão daquilo que ele sentia naquele momento ao lado de seu filho e sua esposa. Outros acompanham mãe, amigos, curiosos querendo conhecer aquele momento; o fato é que a transladação faz dessa reunião uma representatividade onde passa a reunir milhares de corpos com objetivos diversificados, mas que compartilham do mesmo território em espaços denominados por caracterização entre famílias, amigos, grupos Lgbt’s, etc. Às margens da Avenida Boulevard Castilhos França tive a oportunidade de estar por alguns momentos com a família de Ed Carlos Maia e Andreia Maia, ambos irmãos e moradores do Distrito de Icoaraci e Cidade Nova. Junto a eles estavam seus tios Leia e Almir, e primos que por tradição se reúnem naquele local pra ver a passagem da imagem de Nazaré e prestigiar as lindas cores dos fogos na Estação das Docas. Este momento para eles é especial e por se tratar de uma família genuinamente católica, se sentem gratos pela vida e por graças alcançadas. Eles também compartilharam de suas opiniões do significado do Círio em suas vidas e dos sentimentos que os fazem perdurar em uma única fé. Lembro-me que próximo do local, na praça da república acontece após a transladação um evento direcionado à comunidade LGBTQIA+ denominado “Festa da Chiquita” o qual ano passado fui pela primeira vez, onde não tive uma boa experiência, mas que o ocorrido faz parte deste aglomerado de corpos com intuitos diferenciados naquele breve espaço. Em outubro de 2022 por não conhecer a dinâmica do movimento que faz da festa da chiquita sua identificação, me desprovi de minha própria segurança e fui furtado sem perceber. Essas características também se tornam uma identidade de todo o evento, pois ainda que sejam realizados separadamente, estão inseridos no mesmo território, então neste sentido Michel Foucaut ressalta a questão da governamentalidade trabalhar a organização da segurança pra gerar corpos devidamente corrigidos com objetivos de apresentar uma sociedade com resultados a partir desse controle do biopoder. Notei que em cada momento das passagens e a “agonia” para ver a santa se intensificava cada vez mais ao passo que ela se aproximava daquela multidão de pessoas, seja nos arredores quanto as que estavam acompanhando na corda. É um caminho mais curto em relação ao Círio de domingo, porém a intensidade e fluxo de pessoas é extremamente grande ao passo que caminham. O fato de a transladação ser oficialmente na véspera do Círio, no caso, no sábado repercute mais à pessoas que preferem optar por estar presentes neste dia, levando em consideração o fato de ser realizado em um horário mais agradável (noturno) e não de dia, pois algumas pessoas não conseguem acompanhar o círio em período de sol. Algo que me encantou na transladação foi a beleza das luzes, as cores que se identificam nesse processo junto aos fogos. Também pude notar que acaba se tornando um Círio mais gostoso de se apreciar o tempo, classes diferenciadas, principalmente universitários pagando promessas o qual pude perceber. Outro detalhe bem mais emblemático foi o uso de novas tecnologias como drones que modificaram essa imagem da transladação, apresentando assim de uma forma mais autêntica os cartões postais daquela área do centro comercial de Belém como a Estação das Docas e suas praças ao redor. De fato, a transladação tem um público mais diferenciado e suas características de beleza e dinâmicas faz com que uma determinada população aprecie a cada ano com mais intensidade e diversidade.


 3.2 – Experiência e percepções de Eduardo 

No sábado do dia 7 de outubro saí de casa, conduzido por meu irmão Adalício Jr e acompanhado por Nilmara de Melo e Luan Campos no rumo da Trasladação. Sou ateu, não conheço o conjunto dos eventos que compõem o Círio de Nazaré, por isso convidei estes amigos para ajudarem a estar melhor situado meio a procissão. Nilmara foi muitos anos liderança na Pastoral da Juventude (PJ) no Carapajó-PA, Luan é coordenador de uma comunidade cristã em Ananindeua – município onde moramos e que compõe a Região Metropolitana de Belém. Fomos de carro, saímos por volta de 16h e acabamos por sofrer bastante com o trânsito ao chegarmos ao redor do Colégio Gentil Bittencourt. Só conseguimos estacionar em uma travessa distante cerca de quatro quarteirões de lá. Deixando o carro, caminhamos ao Colégio Gentil. Pude perceber a mudança gradual que ocorria na medida em que me aproximava do ponto de partida da procissão. O silêncio e vazio que predominavam nas ruas iam dando lugar às vozes de aglomeração, adensando o número de pessoas andando em mesmo sentido, reduzindo o espaço entre os indivíduos até se tornar inevitável o contato físico direto de pessoas. Nas ruas ligadas a Avenida Nazaré e nas adjacências se formaram corredores de vendedores ambulantes, com brinquedos de mirití, fitas de lembrança do Círio, águas, lanches e peças úteis à procissão tal como sombrinhas, chapéus, etc. Poderia se afirmar que ali se constituía a formação de uma feira popular móvel que acompanharia a procissão. Ocorreu um atraso na programação: duas horas a mais na espera pela saída das estações da Santinha. Isto gerou certa atmosfera de suspense e depois de impaciência, enquanto tremulavam deslocadas bandeiras de “diga não ao aborto” – solenemente ignoradas e evidentemente assinaladas por instituições da “governamentalidade” do evento, poderia ser dizer a partir das leituras de Michel Foucault. Aquele tempo ameno e coberto pela proteção das frondosas árvores da avenida também foi se abafando, posto que a concentração de pessoas aumentava ao passar das horas. Não foram poucas as ocasiões nas quais a Cruz Vermelha socorreu pessoas que passavam mal, desmaiavam e precisavam ser transportadas para longe, para lugares mais ventilados, nas outras ruas. Percebi que estavam escassas as típicas distribuições de garrafas e copos de água típicas do Círio de Nazaré e que ocorrem muito aos domingos. Foi só com o chegar da noite, com o escurecer e a maior amenidade do tempo, que a corda e a procissão passaram a caminhar decisivamente o trajeto da procissão. As luzes da noite, das decorações pela cidade, da berlinda da Santa, os flashes de celular, tudo ali aumentava a áurea hipnotizante da trasladação e suas orações. A diversidade que vi era enorme, todos os perfis de pessoas circulavam, havia muitos jovens – tanto na corda como fora dela – circulando, de vez em quando com a sonora verbalização de encontros. Assim idosas e idosos também, com seus terços em mãos erguidas pedindo graça. Percebo que foi bem cansativo o caminho para quem estava desde o início ou até antes no aguardo da trasladação. As saudações através de janelas, portas, grades, palcos, arquibancadas, prédios, quiosques, foram muito intensas ao longo da procissão e culminaram em pirotécnico ao final, fogos do teto do Banco da Amazônia, já no espaço da Praça da República. Enquanto isso, do outro lado da Praça e de frente ao Banco, um espaço distinto ia se formando na gradual dispersão daqueles que até então acompanhavam a trasladação e agora iam encontrar-se na Festa da Chiquita. Encontro LGBTQIA+ que ocorre há décadas para afirmar-se o direito de ser diverso, feliz, participar, sem ser submetido a regras e normativas que existem tentando dominar e dirigir o Círio de Nazaré, com música, arte, canto, resistências e libertação coletiva de nossa comunidade no território plural da principal praça pública da cidade de Belém, como uma espécie de continuação pagã, laica ou ecumênica – tudo ao mesmo tempo – após o traslado. Ali trans, travestis, gays, lésbicas, bissexuais, não-bináries e todes mais são bem-vindos se quiserem fazer presentes para prestigiar um espaço livre daqueles julgamentos sexistas-moralistas e fundamentalistas que predominaram ao redor. Pude entrevistar membros “do Vale” e perceber que as homenagens a Santinha eram um tanto mais coloridas e menos doutrinárias, mais alegres e menos sisudas, com mais afeto e menos vigilância pastoral dos corpos, mais aceitação. Um ar mais livre do que entre os ambientes culturais dos ditos “bons costumes” que acabam se impondo de forma hegemônica a todo instante, tão mal acostumados a julgar quem é diferente. Lá se fez muita referência à representatividade daquele espaço dentro de um processo que é tido como eminentemente religioso, como é o Círio de Nazaré. Do chão da Praça que fora cemitério de povos originários e da negritude, até a voz de Elói Iglesias aos gritos de regozijo ao microfone, organizador histórico do evento, tudo soa a uma experiência também de fé em outra forma de sentir e viver o afeto que reina no Círio. Por outro lado, como um contraste evidente, ao redor desta ilhota há um intenso policiamento e o rígido controle do tempo de duração do evento, mostrando pontuada e repressivamente as tecnologias de poder sobre aquele pequeno oásis de liberdade humana.


3.3 – Experiência e percepções de Hildo

Por causa da proposta da disciplina Geografia da População, quando cada grupo ficou responsável por cada parte do evento em questão, Círio de Nazaré. A Transladação foi a parte do evento em que o grupo a qual participei ficou responsável pela pesquisa de campo, pois eu nunca havia participado de algo dessa proporção religiosa. Já no interior do ônibus que fui para o lugar da transladação, foi perceptível o envolvimento das pessoas com relação à atividade religiosa, quanto mais se aproximava do local por onde passaria a imagem, aumentava a quantidade de fiéis em busca do melhor lugar para fazer sua devoção a Virgem. No local onde me propus ficar na Catedral de Belém, por causa das entrevistas que fiz com pessoas devotas de Nazaré, havia muitas barracas de todos os tipos: de lanches, de bebidas, de famílias, das mais simples às mais sofisticadas, circulação de pessoas de vários níveis da sociedade, até mesmo os invisíveis, assim como em todo o trajeto que fiz. Das dez entrevistas que fiz, uma delas me chamou atenção, foi de uma família do Município de Barcarena, que todos os anos participam da translação no mesmo local religiosamente como um ritual também de fé, havia com a família alguns objetos particulares para um melhor conforto no local onde estava sendo aguardada a imagem Virgem de Nazaré. O mais surpreendente foram alguns pagadores de promessas que percorrem um trajeto longo de joelhos enfaixados sobre o papelão, mas recebem ajuda de outras pessoas que vão removendo o papelão para que o devoto possa alcançar o seu objetivo que é concretizar o “pagamento” da promessa, da benção recebida. Foucault na sua obra apresenta noção de Biopoder, descreve noção de segurança, dispositivo próprio da estratégia do biopoder, descreve também o funcionamento do biopoder em relação ao espaço, em relação ao planejamento do espaço próprio para os novos intentos da cidade, próprio para a circulação de mercadorias, de pessoas, próprio para o exercício da liberdade enquanto livre movimento enquanto livre comércio. Portanto, a transladação que acontece no sábado é o evento inverso do Círio de Nazaré no domingo, por isso da sua importância como sendo o segundo evento mais importante das festividades que atrai centenas, milhares de pessoas devotas ou não da Virgem de Nazaré.


3.4 – Experiência e percepções de Leonardo 

Segundo minhas experiências sobre a disciplina de geografia da população, do curso de geografia do IFPA (campus-Belém) em junção empírica com uma manifestação cultural e regional, que é conhecida mundialmente como a maior procissão de fé da igreja católica romana, levando para o saber das ruas a sensação do corpo com a festividade do ato de participar das romarias; meu grupo escolheu a transladação do Sábado, na noite do Sábado, véspera do Círio, milhares de fiéis se reúnem para a procissão que antigamente era chamada de Antecírio. Com saída do Colégio Gentil Bittencourt, após a missa, os romeiros saem em caminhada rumo à Catedral de Belém, no percurso inverso ao do realizado na manhã de domingo. Ou seja, por meio de formulários e de conversas, principalmente a vivência de cada integrante do grupo, reunir e associar com a disciplina conhecimento individual para formar um ensaio dessas sensações corporais. Antes disso, fomos instruídos pelo prof. Dr. Wallace Pantoja, a escolher um espaço dentro das dependências da IFPA- Belém, para a observação das dinâmicas noturnas dos corpos, sensações dos sons de cada um espaço vivido nessa caminhada. Eu escolhi a quadra mais afastada do centro da instituição para colocar meu corpo nas verdadeiras sensações para comprovar a aflição e os desafios dos corpos homossexuais, mesmo sendo cis, de transitar por determinados ambientes. Notei pelos passos acelerados dos alunos aleatórios, que passavam por mim, um medo, aflição e agonia para sair daquele espaço, de ir para outro lugar mais favorável à segurança no modo geral, funcionários que passavam me observavam com olhar desconfiado, por me fazer presente em um ambiente de penumbra, e de tudo isso, comprovei o meu sentir de encontrar uma área mais escura e sem muitas movimentações, a dinâmica espacial é muito diferente para corpos tão plurais, fiquei pensando em corpos femininos, em corpos transexuais e nas siglas todas vivendo essa geografia noturna nas dependências, imaginado e construindo saberes dessas vivências de perigo fora da instituição. Então, essas sensações de aflição, medo, desconfiança é vivido em espaços urbanos diversos dentro da metrópole, nos bairros menos movimentados, em ruas escuras dado ao anoitecer, dos corpos vívidos nessa dinâmica espacial do medo dos abusos noturnos feitos por pessoas preconceituosa esperando uma vítima da comunidade LGBTQIAP+, porém não somente, estupradores escondidos em becos, assaltantes na espreita, e o Círio como uma reflexão das dinâmicas, uma festividade de corpos plurais, mas sujeitos aos conflitos das ruas noturnas. Me lembro de sair da avenida principal da procissão e ir para ruas mais estreitas com essa aflição do medo, de presenciar assaltos, de ver o quanto o religioso exclui o social, pois muitos da comunidade LGBTQI+ não performance dos padrões cis da sociedade, se fizeram presentes para prestigiar Nossa Senhora de Nazaré, por medo do julgamento de sua aparência e roupas. 


3.5 – Experiência e percepções de Maria Diana 

A cada ano que esta linda e nostálgica data chega, e traz com elas uma romaria de cores e símbolos espalhados por toda a cidade. Um mar de gente, um mundo de diversidade cheio de significados e uma imagem peregrina que é recebida com fé e devoção nos 15 dias desta manifestação religiosa católica. Durante meu percurso, eu Maria Diana vi diversas manifestações culturais e sentimentos que aos poucos também foram me envolvendo, sentimentos esses inefáveis, e quanto mais as horas se passavam mais cores e luzes mudavam a paisagem da cidade enchendo meus olhos e encantando a multidão que ali se encontravam em diversos propósitos, (devoção, adoração, agradecimento e curiosidade). Por muitas vezes observei aspectos filosóficos como de Michel Foucout que se preocupava em observar a singularidade dos eventos nas práticas culturais, e quando paramos para vivenciar o Círio de Nazaré, percebemos que esse evento é singular, sem igual em lugar nenhum. O encanto da comunicação visual, expressadas em diversas forma desde o manto o que é uma peça de tecido ornamentado que envolve a imagem de Nossa Senhora Nazaré, que de forma tradicional é mudando nas procissões. Acredita-se que o manto seja uma tradição muito antiga nas celebrações, embora não haja a certeza de que a imagem original tenha sido encontrada envolvida em um manto. O círio de Nazaré realmente é incrível, repleto de simbologias representadas por objetos que tem uma representatividade cultual única do Estado do Pará, o manto, a corda, o carro dos milagres, o carro dos anjos as rua enfeitadas cheia de luzes de todas as cores que deixam a cidade incrivelmente bela, cada vez mais bela que é revelada pela historiografia Círio de Nossa senhora de Nazaré, que a cada ano apresenta transformações e reformulações de significados, inclusive com as novas tecnologias dos drones qualquer devoto, pessoas consegue contemplar tamanha beleza de cores e símbolos representada pela população em território que cada vez mais da vez ao incrível deixando de lado o cansaço que o meu corpo em um determinado horário passa a sentir. 



4. RESULTADOS DO PERCURSO 

Os resultados encontrados são a singularidade do círio de Nazaré, a comunicação abstrata constante em cada rosto, cada olhar e cada lágrima que cai dos olhos de milhares de fiéis que ali encontram-se, além do lindo cartão postal que a população representada por diversos personagens culturais em meio às ruas de Belém do Pará e a incrível experiência de viver o abstrato da fé. 



5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

No artigo se procurou evidenciar, por meio do exemplo da festa e da população do Círio de Nazaré, Belém do Pará, a grande potencialidade das festas de caráter popular, que combinam o sagrado e o profano, na organização e muitas vezes redefinição da vida social. Para tanto, utilizou-se de pesquisa empírica e da observação in loco, em mais uma versão anual da festa. Procurou-se mostrar que há mais de trinta anos a transladação que faz parte da festa do Círio de Nazaré mobiliza devotos para agradecer as bênçãos recebidas, fazer pedidos à Santa e invocar sua proteção. Ao longo dos anos, as relações sociais que estão na base dessas manifestações foram se fortalecendo e a sua expansão e os acréscimos que foram sendo introduzidos não comprometeram os seus aspectos positivos e vigorosos. Apesar do grande número de público que aflui à festa e, apesar das dimensões profanas, a fé e a devoção mantiveram a sua força agregadora da população. Os festejos do Círio oscilam entre o polo religioso no qual a população comunga sua fé e celebra sua devoção e o polo profano que oferece a possibilidade de uma participação ativa na qual se criam momentos para a convivialidade e o compartilhamento festivo de seus valores. Se o sagrado propicia o conforto espiritual ou psicológico da proteção e do auxílio da Santa, o profano, através das manifestações festivas, promove a participação coletiva que une e integra a comunidade. Tudo vai permitir falar mais vigorosamente sobre as tradições e redinamizar as relações sociais e os valores comuns. Tanto no aspecto religioso quanto na dimensão profana, a festa do Círio supõe uma expansividade coletiva cuja função primordial é estabelecer relações sociais. Se por um lado o espaço das procissões e eventos religiosos sacralizam os espaços da cidade, por outro as relações sociais através da participação em eventos como da Chiquita no Círio, por exemplo, ganham o caráter solene de pertencimento coletivo mesmo não sendo oficializado pela a Igreja Católica. O que se observa, também, é a força da participação da população. Em várias ocasiões a participação popular resistiu ao controle excessivo tanto da Igreja quanto do Estado, encontrando formas de exprimir vigorosamente sua história, seus valores, suas alegrias. E, ao sentir a intensidade da força da fé e da devoção nos eventos religiosos e ao compartilhar da alegria e da efervescência das festas, pode-se concluir que no Círio de Nazaré há um clima que dilui as barreiras e fronteiras entre o sagrado e o profano, entre o rico e o pobre, entre o católico e os membros de outras denominações. E, sobretudo, em ambas as dimensões se privilegiam o coletivo e a convivialidade em oposição ao individualismo engendrado pelas características urbanas

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